Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
No hemisfério sul, o Solstício de Inverno acontece por volta do dia 20 de junho. A astronomia explica: é o momento em que o Sol atinge sua menor altura no céu ao meio-dia, marcando o dia mais curto do ano. A partir daqui, a luz começa a crescer de novo. O ciclo se inverte. Isso por si só já foi suficiente, por milênios, para provocar culto, rituais e mitologias. Povos antigos viam no Solstício a morte simbólica do Sol, temendo que talvez ele não voltasse. Por isso, acendiam fogueiras, realizavam cerimônias e invocavam a volta da luz. Hoje sabemos que o Sol não morre — ele apenas desaparece por um tempo do nosso campo visual direto. Mas esse desaparecimento ainda nos afeta. Dentro do contexto thelêmico, a relação com o Sol é ativa e intencional. Em Liber Resh vel Helios, por exemplo, Crowley nos propõe quatro adorações diárias ao Sol. Não por superstição, mas para criar uma disciplina de consciência cíclica. Observar o Sol — e por consequência, o próprio corpo e a própria Vontade — em suas fases. Saber quando agir, quando recolher. Quando expandir, quando silenciar. O Solstício de Inverno representa o extremo do recolhimento. É TUM, é KHEPHRA. O Sol oculto, o silêncio fértil, a hora em que a escuridão cobre tudo e mesmo assim existe uma certeza: a luz vai voltar. Não se trata de esperar passivamente. É um momento de construção interna. Aqui não há colheita. Não há flores. Mas há raiz. Há elaboração. Se a Vontade é uma chama, essa é a hora de cuidar da lenha e não do incêndio. A Missa, os Resh, as invocações, não param no inverno. Pelo contrário — é aqui que se testam. Crowley aponta que a prática regular é o que protege contra o medo da morte. O Sol desaparece, mas você continua invocando. Você sabe o caminho. Não se trata de “fazer algo acontecer”, mas de alinhar-se com o que inevitavelmente acontecerá. A luz vai voltar, mas você tem que estar pronto para recebê-la. O Solstício de Inverno é, em essência, um rito de persistência. Você não vê a luz, más ela se mantém acesa dentro de ti.
Amor é a lei, amor sob vontade.